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PRETOS VELHOS

PRETOS VELHOS

  

 

OS PRETOS VELHOS

 

O Preto-Velho é uma entidade cultuada nas religiões afro-brasileiras, sendo espíritos de velhos africanos (homens e mulheres) que viveram nas senzalas maioritariamente como escravos e morreram de velhice.

Na Umbanda estas entidades apresentam-se estereotipadas: são anciãos negros, com o cachimbo na mão, grandes sábios, conhecedores da ervas e sua manipulação, bem como da magia divina.

No Cadomblé, são considerados Eguns (almas desencarnadas).

Na Umbanda, os Pretos-Velhos são homenageados no dia 13 de Maio, dia da abolição da escravatura, dia em que foi assinada a Lei Áurea.

O Preto-Velho é fruto de circunstâncias únicas que existiram no Brasil, sendo a mais carismática entidade dos terreiros de Umbanda.

Os escravos eram trazidos de África para o Brasil, e após a sua chegada pouco tempo sobreviviam. As árduas condições de vida, má alimentação, muito trabalho, falta de salubridade, resultavam numa média de vida de sete anos. Alguns conseguem sobreviver e alcançar uma idade avançada, e assim surge a figura deste escravo “Preto-Velho”, que personifica o patriarca da raça, com cabelos brancos, experiência de vida e uma enorme sapiência. O “Preto-Velho” é então o sábio que deve ser consultado, o sábio que deve ser ouvido, é aquele a quem se recorre quando se procura um conselho e uma orientação.

O Preto-Velho é uma entidade marcada pela tolerância, pela caridade e simplicidade, pelo amor ao seu semelhante.

OS PRETOS-VELHOS NOS TRABALHOS ESPIRITUAIS DE UMBANDA:

Nos trabalhos espirituais os médiuns incorporam entidades com diversos níveis de evolução, níveis evolutivos esses que se dividem em 3:

AS CRIANÇAS:

São chamadas de eres ou ibejis.

Representam a pureza e a inocência.

OS CABOCLOS:

Nestes incluem-se os boiadeiros, caboclos e caboclas. Representam a força e a coragem. Apresentam a forma de um adulto.

OS PRETOS VELHOS:

 Nestes se incluem os tios e tias, pais e mães, avôs e avós, todos na sua forma idosa, que representa o conhecimento e sabedoria, a fé.

 

NOMES DE ALGUNS PRETOS-VELHOS:

Os Pretos-Velhos podem apresentar-se como Tio, Tia, Pai, Mãe, Avó, Avô, no entanto são todos Pretos-Velhos, sendo que, os que são tratados por vovô ou vó são os mais velhos.

Os Pretos-Velhos apresentam-se com nomes que permitem identificar a sua nação de origem, tal como acontecia na época da escravidão (ex. Guiné, Moçambique…), seu orixá regente, evidenciando a sua actuação propriamente dita. Assim temos:

Aruanda:

Ex. Pai Francisco de Aruanda.

Aruanda significa “céu”. Refere-se a Pretos-Velhos activos na linha de Oxalá.

- Calunga, Cemitério ou das Almas:

Ex: Pai Francisco da Calunga, Pai Francisco do Cemitério ou Pai Francisco das Almas.

Refere-se a Pretos-Velhos activos na linha de Omulu/Obaluayê.

- Congo:

Ex. Pai Francisco do Congo.

Refere-se a Pretos-Velhos activos na linha de Iansã.

- D’Angola:

Ex. Pai Francisco D’Angola.

Refere-se a Pretos-Velhos activos na linha de Ogum.

- Matas:

Ex: Pai Francisco das Matas.

Refere-se a Pretos-Velhos activos na linha de Oxóssi.

Os Pretos-Velhos masculinos, nomeadamente são:

 Pai João, Pai Joaquim de Angola, Pai José de Angola, Pai Francisco, Pai Jacó, Pai Benedito, Pai Anastácio, Pai Jorge, Pai Luís, Pai Maneco, Pai Mané,  Pai António, Pai Cipriano, Pai Roberto, Pai Tomás, Pai Guiné, Pai Jobim, Velho Liberato…

Os Pretos-Velhos femininos, nomeadamente são:

Maria Conga, Vó Catarina, Mãe Maria, Mãe Cambina; Mãe Sete Serras, Mãe Cristina, Mãe Mariana, Mãe Cambinda, Vó Cecília, Vó Quitéria, Vó Ana….

 

 

 

A história de Pai Joaquim de Cambinda

 

 

 
Era o final do século XVII, costa oeste da África, em uma aldeia de Cambinda. Com apenas 5 anos de idade, Pai Joaquim assistiu a aldeia ser invadida pelos escravagistas, que mataram sem piedade todos aqueles que não 'seviam' para o comércio. Juntamente com seus pais foi colocado com outros negros no porão de um navio, rumo ao Brasil.
Devido às péssimas condições deste porão, a falta de comida e água potável, muitos desencarnaram na viagem, entre eles, os pais de Pai Joaquim , que foram jogados ao mar, assim como todos aqueles que 'morriam' durante o trajeto.
Chegando ao Brasil, litoral da Bahia, Pai Joaquim foi vendido e levado a uma fazenda de cacau. Além de cacau, plantavam também café e cana de açúcar. Lá chegando, recebeu o nome de Joaquim, mas era chamado mesmo de 'neguinho'. Embora muito criança ainda, trabalhava juntamente com os outros negros na lavoura, o dia inteiro. Não havia tempo nem vontade para brincadeiras. À noite, cansado da lida, deitava na senzala e deixava o pranto aliviar a saudade que sentia de sua aldeia, seus pais, seus amigos da África. O sono chegava e antes do sol surgir, já estava de pé para mais um dia como todos os outros. Ainda em Cambinda, seu pai era o curandeiro da aldeia e desde cedo passou a ele o conhecimento que podia absorver sobre as ervas e seu poder de cura. Na fazenda, continuou aprendendo com uma negra já velha, que usava as ervas para tratar os escravos. Intuído por seus guias espirituais, com quem já tinha contato, seguiu pesquisando e descobrindo novas ervas e raízes e como utilizá-las para a saúde de todos. Quando tinha já 12 anos, a filha mais nova do Sinhô adoeceu gravemente e não havia tempo para buscar um médico. Os brancos já tinham conhecimento de seu poder com as ervas e, embora relutantes, entregaram a Sinhazinha aos seus cuidados. Com o auxílio de seus amigos espirituais, Pai Joaquim restabeleceu a saúde da moça e ganhou a confiança do patrão, sendo sempre requisitado a partir de então, a cuidar da saúde da familia da Casa Grande. Cresceu e tornou-se um negro forte e saudável, sendo escolhido então para ser um dos negros reprodutores da senzala, ajudando o Sinhô a aumentar seu contingente de escravos. Como 'médico' e reprodutor, adquiriu alguns privilégios, como sair da senzala e morar em uma cabana, só para si. Porém, não tinha o direito de ter uma companheira.
 
 
MªRedonda (desenho feito pela Débora, filha do Cavalho de Pai Joaquim)
Apaixonou-se por uma escrava de dentro, ama de leite dos filhos da Sinhá e que todos os dias ia ao ribeirão lavar a roupa. Era lá que se encontravam às escondidas, até que alguém os denunciou. A partir de então, ela foi proibida de sair da Casa Grande e, com 28 anos, desencarna por pneumonia. Hoje, ela trabalha em nossa casa, na Falange dos Pretos Velhos, com o nome de Maria Redonda. Quando já estava com quase 40 anos, Pai Joaquim adotou e criou como filha, uma mulatinha, filha de uma escrava com o Sinhô, que passou a morar com ele e para quem ensinou tudo que sabia sobre as ervas. Hoje, espírito, se chama Nina e auxilia Pai Joaquim na adminsitração desta casa, intuindo a esposa de seu 'cavalo'. Pai Joaquim era também o guia espiritual dos escravos, orientando-os sobre as verdades do espírito e passando a eles o conhecimento que recebia de seus guias. Desencarnou naturalmente, aos 74 anos de idade, e finalmente pôde reencontrar sua companheira, com quem vive até os dias de hoje.
 
 
 
Quando a Umbanda surgiu, no Brasil, Pai Joaquim (após cerca de 30 anos de estudo e preparação), engajou-se à Linha dos Pretos Velhos. E hoje, ao contar mais uma vez a sua história, revelou que seu 'cavalo' hoje, foi o seu Sinhô, da época da escravidão.
- Ontem eu o servi, hoje ele me serve! - disse ele, finalizando a história.
Saravá, Pai Joaquim de Cambinda!
Saravá a todos os Pretos Velhos!
 

 

 

 

 

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